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Sistemas e Mídias Digitais

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Os avanços da Inteligência Artificial e a sua utilização e interferência na formação do aluno do SMD.

Data da publicação: 9 de maio de 2023 Categoria: Notícias

Por Bianka Costa

Com o lançamento recorrente de novos programas baseados em Inteligência Artificial, os processos de aprendizado e formação de alunos da área da tecnologia são impactados de forma direta. As IAs – como são chamadas -, estão, por exemplo, nos algoritmos do YouTube e do Instagram, em dispositivos com reconhecimento facial e até nos mecanismos de busca do Google. É notável o desenvolvimento e lançamento de aplicações do tipo, que partem do pressuposto de interação via texto para a criação de algo ou para o desenvolvimento de respostas. Alguns exemplos marcantes de aplicações do tipo são o DALL-E, que cria imagens a partir de simples descrições textuais, e mais recentemente o ChatGPT, que com apenas dois meses de lançamento, conquistou mais de 100 milhões de usuários – para viés de comparação, o estrondoso aplicativo TikTok levou nove meses desde seu lançamento global para atingir tal número. Mas o que exatamente seriam elas? Quais seriam seus impactos diretos e indiretos não somente na formação, mas na vida profissional dos alunos do curso de Sistemas e Mídias Digitais?

A Inteligência artificial é uma tecnologia que permite criar máquinas e sistemas computacionais cujo funcionamento tem alguma autonomia, já que simula o comportamento humano. Em geral, a IA é treinada por meio da absorção e exposição a uma grande quantidade de dados e padrões para que consiga reconhecer elementos, e assim, lidar com diferentes situações por si só. Apesar de ter entrado em evidência nos últimos anos, as Inteligências Artificiais não são uma tecnologia nova; em 1950, Alan Turing trouxe à tona o ideal de um dispositivo que pensava desenvolvendo o Teste de Turing, uma forma de avaliar se uma máquina consegue se passar por um humano em uma conversa por escrito. Esse foi o passo inicial para o desenvolvimento das inteligências artificiais, que foram primariamente assim chamadas por em 1956 por John McCarthy, o criador da linguagem de programação Lisp. Com o passar dos anos, pequenos avanços somados nas áreas da tecnologia culminaram no desenvolvimento de um supercomputador e plataforma de inteligência artificial com computação cognitiva na nuvem. Já no século 21, no ápice da era da tecnologia, tais mecanismos tendem para um desenvolvimento progressivo e exponencial, resultando nos avanços tecnológicos provenientes das chamadas IAs.

Com a crescente popularidade de tais aplicações à primeira vista tão milagrosas, é esperado que a utilização torne-se mais ampla e impacte a vida de cada vez mais pessoas, incluindo acadêmicos de diversas áreas, principalmente da tecnologia. Como o curso de Sistemas e Mídias Digitais tem sua base de desenvolvimento nesse campo, é válido o questionamento de como os avanços das IAs interferem na formação dos alunos do curso.

“Os avanços na área de Inteligência Artificial convergiram para modelos que permitem a disponibilização de ferramentas capazes de automatizar atividades que atendem aos interesses dos alunos do SMD nas diferentes áreas do conhecimento estudadas no curso”, é o que afirma Mara Bonates, professora e vice-coordenadora do curso. É possível que um aluno, em um texto comumente simples, consiga as respostas rápidas para questões que antes necessitavam de muito mais tempo, pesquisa, empenho e esforço, como dado no exemplo da própria, “Para exemplificar, um aluno pode contar com a ajuda do ChatGPT para escrever um texto acadêmico ou até mesmo um código-fonte para resolver uma tarefa proposta em uma disciplina de programação”. A primeira vista, um dispositivo que consiga fazer isso, é interpretado por muitos como um facilitador milagroso, mas ainda do ponto de vista da professora, “essa novidade tecnológica tem seus pontos positivos e negativos”.

“É certo que a IA tem potencial para trabalhar com humanos, levando a uma nova maneira de trabalhar, em parceria com as inteligências maquínicas” afirma o professor Eduardo Junqueira, que ministra aulas de Introdução à Cibercultura, no fator da revolução trazida pelos avanços de tais tecnologias. Com a utilização delas, é um fato indubitável que muitos processos se tornarão automatizados, poupando tempo de profissionais e garantindo uma maior produtividade nos processos realizados pelos humanos, sendo que tal aspecto pode ser posto em prática com os alunos “a utilização de um Large Language Model (LLM) para escrever um programa pode ser uma opção viável para resolver problemas simples que o aluno encontrará nos semestres iniciais do curso”, aponta Mara.

No entanto, principalmente para aqueles que estão iniciando sua jornada no conhecimento, como os próprios alunos, é necessário cautela na utilização desenfreada desses facilitadores “à medida que o aluno vai avançando no curso, os problemas a serem resolvidos se aproximam cada vez mais de situações que ele enfrentará no mercado de trabalho”, continua Mara. “É possível que seja mais fácil o aluno analisar o código, do que especificar todos os detalhes relevantes ao LLM. É possível imaginar vários cenários desta natureza onde o esforço para fornecer a quantidade de informação necessária para especificar a tarefa a ser desenvolvida em um nível de detalhe adequado é de uma ordem de magnitude não muito inferior ao trabalho de escrever o código propriamente dito”, observa.

Desse ponto de vista, é nociva a dependência do aluno para com tais artefatos, já que a naturalização e costume com a máquina não abre portas para um estudo mais amplo, o que faz, por consequência, com que o usuário limite a sua fonte e busca de conhecimentos ao sistema de IA. Além disso, a humanização dos maquinários de inteligência artificial, em especial na sua forma de comunicação humanizada, torna mais difícil a separação homem-máquina e gera um “apego antropocêntrico improdutivo emocionalmente”, segundo proposto em um artigo do professor da UNICAMP, Marcelo El Khouri Buzato.

Partindo do pressuposto não somente do aprendizado, mas que tais questões serão levadas para o mercado de trabalho, surge o temor acerca da eliminação de empregos pelas IA’s. É certo que, com a automação trazida pelo desenvolvimento de tais inteligências, os impactos no mercado de trabalho foram quase instantâneos, e prometem muito mais nos anos vindouros. Alguns empregos foram e serão eliminados, mas a maioria será transformada, com robôs e humanos trabalhando em colaboração, sendo esse fenômeno muito mais expressivo na área de tecnologia. “É muito provável que as indústrias, os mercados de trabalho e os profissionais passem por um processo gradual de transformação e adaptação ao longo dos próximos anos; mas, neste momento de ‘boom’ que estamos vivendo, penso que ainda é cedo para querer fazer previsões precisas”, afirma Liandro Roger, ilustrador, designer e professor de mídias digitais.

Concordando que tais questões são de extrema relevância, principalmente para profissionais da área de mídias, Liandro acha que “as inteligências artificiais não eliminaram, nem eliminarão a necessidade e a importância de os estudantes aprenderem fundamentos de desenho, design e criatividade. Por mais que as IA tenham mostrado grande potencial para otimizar partes do processo de criação artística, o cérebro humano sempre será o motor fundamental da arte e do design em qualquer campo e em qualquer tempo”. A ideia do professor de desenho se alinha com o posicionamento de Junqueira a respeito, que afirma que “a adição do software não diminui o papel do ser humano, mas a intuição, o conhecimento e a agência (no sentido que transformar o mundo positivamente) humana desempenham um papel fundamental nesse processo.”

Sobre toda a problemática levantada, os professores concordam que é necessário livrar-se do apego antropocêntrico e pós-humanista e acompanhar o avanço de tais tecnologias de mente aberta. “Por ora, penso ser importante observar de perto, ganhar familiaridade com o assunto e acompanhar o desenrolar dos acontecimentos no mundo”, disse Liandro. “É importante que os alunos do SMD explorem essas ferramentas, mas não como mero utilizadores buscando acelerar a construção de produtos. É necessário se criar uma visão crítica sobre o que se pode realizar com elas”, pontua Mara, já que pelo seu curto tempo de lançamento, muitas dessas tecnologias, incluindo o próprio ChatGPT, ainda não tem a fonte de suas respostas especificada em todos os seus processos, o que pode calhar na existência de informações errôneas. Como dito pelo professor Eduardo, “caberá ao usuário verificar com muita atenção a qualidade e os problemas contidos nas informações e outros conteúdos gerados pela IA, pois nunca serão neutros ou perfeitos.” Para isso, Mara Bonates alerta: “Para ter essa visão crítica, é necessário ter conhecimento sólido sobre os assuntos estudados ao longo de sua formação. O caminho – ainda é – o estudo formal.”

 

 

 

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